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O que considerar antes de começar a empreender

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Recentemente, fiz o exercício de traçar um paralelo entre a opinião que eu tinha em 2017 e a que possuo agora, em 2021, sobre investimento. Para isso, tomei de base uma websérie que fiz com a Endeavor quando ainda era CEO da Printi. Ao refletir sobre os dois momentos, fiquei feliz mais uma vez com o fato de que o nosso ecossistema vive hoje um momento muito mais promissor do que há quatro anos. O mercado é melhor regulamentado e nunca houve tanto capital disponível para investir em empresas.

Meu ponto de vista sobre investimento, no entanto, mudou muito pouco. As decisões mais importantes e pontos de atenção seguem os mesmos. Por isso, decidi compartilhá-lo. Para quem está começando a empreender ou está pensando em se capitalizar, o texto pode funcionar como um guia básico do que considerar em cada estágio do crescimento.

Investidor ou empréstimo: como financiar meu negócio?

Antes de tudo, vale lembrar que essa decisão é puramente pessoal e só deve ser tomada após uma análise profunda e verdadeira do negócio e do seu perfil como empreendedor. Isso posto, acredito que o mais saudável, financeiramente falando, é tentar começar sem capital ou com um investimento próprio (meu caso). Por quê? Por que assim você não cede uma parte da empresa para um investidor externo e garante um retorno maior caso o negócio dê certo.

Para quem precisa se capitalizar, mas não quer abrir mão de uma fatia do seu novo negócio, as melhores opções costumam ser o empréstimo pessoal e a antecipação de recebíveis do cartão de crédito. Quando se acredita muito na empresa e na possibilidade de upside, mesmo uma taxa de empréstimo de 15% a.a. é muito mais barata do que abrir mão de 10% do seu negócio.

Sem investimento externo, seu negócio provavelmente crescerá em uma velocidade menor, mas terá capital próprio para sustentar as próximas etapas. O contraponto é que, cedendo uma participação, você pode reduzir uma projeção de 15 para cinco anos.

Soma-se a isso o fato de que, nos últimos anos, tivemos uma redução muito grande da taxa básica de juros – há dívidas com taxas muito mais atrativas do que há quatro anos – e que nunca houve tanto capital disponível para ser investido, principalmente em empresas de tecnologia. O cenário para levantar uma rodada de investimentos é infinitamente mais favorável em 2021 do que era em 2017. Isso se reflete em um custo menor para o empreendedor, que pode levantar um montante de capital maior ou uma avaliação maior. E aí voltamos para a análise inicial: quanto você acredita no seu negócio?

​Que fatia da empresa ceder ao investidor?

Caso não seja possível começar sem capital, uma opção para o estágio inicial (quando a ideia de negócio ainda não foi validada) é conseguir o aporte de uma aceleradora. Nesse mesmo estágio temos também os investidores anjo. Em ambos os casos, no entanto, a diluição não deve ultrapassar 10% de participação. Qualquer coisa acima disso pode não ser muito saudável para o crescimento e o futuro da empresa.

Passado o estágio inicial do negócio, o empreendedor pode captar recursos no que se conhece por “rodada seed”, de seed capital ou capital semente, em português. Nessa fase, a diluição saudável também fica entre 10 e 15% da empresa.

Depois, temos o famoso alfabeto: Series A, B, C, D e assim por diante. Basicamente, as rodadas de investimento são sequenciais e os valores vão avançando de três a cinco vezes por rodada. Se o capital semente foi de R$ 1 milhão, o Series A será de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões. Em um cenário ideal, a empresa chega em um Series A com o empreendedor tendo, pelo menos, 70% do negócio. A partir dessa rodada, esse percentual fica em torno de 50%.

A boa notícia é que o número de opções disponíveis para o empreendedor brasileiro em termos de fundos de Venture Capital e investidores anjo operando no ecossistema cresceu nos últimos quatro anos. E isso também se deve à redução da taxa de juros, que acaba gerando um maior apetite por risco em todos os participantes da economia.

Outra grande diferença é que o montante de cada uma dessas rodadas mudou completamente de patamar, se multiplicando por algumas vezes. Tomando como exemplo as aceleradoras, hoje, um aporte pode chegar a R$ 500 mil. Um valor muito superior aos aportes de R$ 10 mil e R$ 40 mil que víamos há menos de cinco anos. A expectativa de diluição nessa rodada também está mais atrativa, abaixo dos 10%. Existem, inclusive, aceleradoras com programas sem diluição para o empreendedor.

Valuation: como sei o valor da minha empresa?

A essa altura, você já deve saber que o valuation de uma startup em suas primeiras fases de crescimento não representa o valor de mercado da empresa. Nesse estágio, o valor total atribuído ao negócio representa apenas o preço que o investidor está disposto a pagar para apostar com você em uma ideia com retorno futuro e incerto. Quanto mais próximo e previsível for esse futuro, maior será o valuation.

Para mim, o valuation também pode ser entendido como uma consequência de quanto você quer captar e quanto você vai se diluir. Recorrendo a um cenário hipotético: sou um empreendedor extremamente ambicioso e acho que minha ideia vale muito, mas estou no estágio seed, querendo levantar R$ 10 milhões. Seed representa 10% de diluição. Isso significa que minha empresa vale R$ 100 milhões? Na prática, as coisas não funcionam assim. Eu defino primeiro o volume de investimento, negocio a participação societária e só então uso essas duas variáveis para calcular o valuation. Por exemplo, se o investidor está aportando 10 milhões por 25% da empresa, o valuation é de R$ 40 milhões.

Outro ponto importante é que conseguir um valuation alto significa entregar um crescimento de 3-5 vezes maior do que esse valor para garantir o retorno para seu fundo e seu novo sócio. Então, antes de aceitar investimento em um valuation alto, se pergunte dez, quinze vezes se você realmente consegue triplicar esse valor na próxima rodada. Se a resposta for “não”, você provavelmente não deveria levantar capital.

Lembrando que o valuation também considera o interesse dos investidores em seu negócio. Se apenas um fundo está interessado, o valor total atribuído é “x”. Se dois ou mais fundos estão interessados, então o valuation é “2x”. Esse fator aumentou consideravelmente nos últimos quatro anos. Há fundos atuando em todas as séries, trazendo muito mais competitividade.

Como calcular quanto de investimento preciso?

Quanto você precisa para chegar ao próximo estágio de crescimento? É preciso olhar para os próximos 18-36 meses ou 24-36 meses. Vamos supor que eu sou o dono de uma empresa em estágio seed que levantou R$ 1 milhão. Esse um milhão é suficiente para me levar a um Serie A? O que vou fazer com esse recurso? Contratar desenvolvedores, profissionais de marketing?

É preciso ter clareza sobre onde e como gastar o dinheiro e se ele será suficiente. Isso é fundamental também para que você consiga dividir com o potencial investidor o que será feito com o valor do aporte. Bem como pedir montantes realistas. A cada estágio de crescimento, fica mais fácil prever quanto de investimento você precisa e como gastá-lo de maneira mais eficiente (ou pelo menos deveria).

Com o ecossistema, hoje, em outro patamar, recomendo cautela em um ponto: o mercado pode estar praticando uma rodada ou valuation que o seu negócio ainda não está pronto para seguir – seja por não estar embasado do ponto de vista de tração para sustentar o valuation ou por não ter um plano bem fundamentado sobre como será gasto o dinheiro. Fique atento a essas armadilhas e, se necessário, recuse “oportunidades”.

Quais os pontos de atenção ao buscar investimento?

Já falamos sobre níveis saudáveis de diluição em cada estágio, então, aqui, vou me concentrar em um outro ponto: os termos que acompanham uma rodada de investimento. Exemplos: questões de governança, controle do board (conselho capaz de decidir sobre direcionamentos estratégicos da empresa) e direitos de veto.

Mais uma situação hipotética: eu e meu co-fundador levantamos um Series A pequeno, de R$ 3 milhões. Cedemos 30% de participação e mantivemos 70% do negócio. Ótimo! Na hora de criar o board, o investidor ficou com três assentos. Em tese, ele tem mais poder de decisão sobre os rumos do negócio do que eu e meu co-fundador. Por isso, vale estudar cada termo, incluindo o de “preferência por liquidez”. É esse documento que define o que acontece em caso de venda ou falência da empresa, quem recebe quanto e em que proporção.

O momento que vivemos hoje é muito mais otimista nesse sentido. O mercado é melhor regulado e possui atores que promovem muita transparência. Há quatro anos, também não havia muito histórico sobre os fundos. Não era possível pesquisar a reputação ou como se comportam em diferentes situações. Faça seu dever de casa e saiba como os fundos com os quais você está falando agem, principalmente quando as coisas dão errado. Tente falar com empresas do portfólio dessas companhias. É fundamental entender como eles se saíram em situações desafiadoras. Isso vai te dizer muito sobre o futuro.

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